Continuação da proposta do tópico anterior. Abordagem sobre os estudos da língua hebraica – “hebraico bíblico”.
Hebraico Bíblico (TREBOLLE BARRERA)[1] Trebolle Barrera (1995:8-9) mostra a necessidade dos estudos bíblicos de construir pontes entre os diversos campos de estudo. O estudo da Bíblia exige o trabalho conjunto de epigrafistas e paleógrafos por um lado, e de historiadores da religião bíblica, do pensamento judaico e do pensamento cristão por outro. Muitas são as questões que exigem atualmente um tratamento interdisciplinar. | |
Histórico: As descobertas modernas resgataram outras línguas semíticas com os quais o hebraico está aparentado (acádico, ugarítico, fenício, etc.), assim omo línguas não semíticas, que de alguma forma influíram no hebraico e no aramaico. Segundo Trebolle Barrera (1995:9), no terreno lingüístico a Bíblia trilíngüe exige um novo diálogo e não o velho distanciamento entre hebraístas, helenistas e latinistas. O trilingüísmo hebraico-aramaico-árabe, com o qual conviveram os massoretas, gramáticos e exegetas judeus do Oriente árabe e da Espanha muçulmana, exige não esquecer-se da contribuição do árabe para compreender a tradição gramatical exegética presentes na transmissão textual da Bíblia Hebraica. A descoberta na época moderna das línguas semíticas do Oriente Antigo originou um novo trilingüísmo representado pelo hebraico/aramaico-ugarítico-acádico, que ajuda a explicar muitas questões mal colocadas ou erroneamente resolvidas no passado com o cooperação unicamente da crítica textual ou do testemunho das versões. Essa nova descoberta lingüística possibilita também situar a literatura e a religião bíblica no seu contexto cultural originário. | |
| Semítico do Sul: inclui o árabe e o etiópico. Anteriormente o árabe era praticamente o único canal de aproximação ao estudo do semitismo antigo. Atualmente, o acádico tomou o lugar do árabe nesta função. Os comentários atuais dos livros bíblicos ignoram muitas referências utéis ao árabe que enchiam os comentários da primeira metade do século. |
Semítico do Noroeste: é o cananeu em suas distintas formas: o hebraico, moabita, edomita por uma parte, e ugarítico, fenício e púnico, por outra. | |
Semítico do Norte: é basicamente o aramaico, subdividido em 2 grupos: o grupo ocidental (o aramaico da Bíblia, dos targumim e da Guemará do Talmud palestinense e ainda o samaritano e o nabateu) e o grupo oriental (o aramaico do Talmud babilônico e o siríaco das traduções bíblicas e dos escritos cristãos e mandeus). | |
Semítico do Leste: compreende o acádico e suas línguas derivadas, assírio e babilônio. | |
Observações gerais sobre o hebraico: A língua hebraica é conhecida na Bíblia como a “língua de Canaã” (Is 19,18), e mais freqüentemente como “judaica” (Is 36,11; 2 Cr 32,18). Os grupos de hebreus relacionados com os hapiru, encontrados em Canaã nos finais do século XIII a.E.C., somaram-se outras tribos do futuro Israel ali sediadas desde a Antigüidade. Depois da sedentarização em Canaã, os grupos vindos de fora começaram a falar também o hebraico. 2) Sistema de escrita: Até os séculos V-VI E.C., o hebraico não dispunha de um sistema de escritura dotado de vogais. Observa-se um esquecimento crescente da pronúncia exata do texto bíblico. Para evitar esta perda, ao lado da escritura consonântica foi criado um sistema de acentos e de vogais, que são indicados através de pontos e de traços diversos, situados em cima ou embaixo da consoante, depois da qual se pronunciam. Esta estrutura consonântica do hebraico (variações vocálicas dentro de uma mesma raiz estável e o sistema de escritura que utliza unicamente signos de valor consonântico) permitem mudanças fonéticas e gráficas (significantes) que ocasionam mudanças de significado. Isto permite uma duplicidade de sentidos em numerosos textos legais ou narrativos. 4) Tempos verbais: Os tempos dos verbos, denominados de perfeito e imperfeito, não designam o tempo da ação (passado, presente e futuro), mas o caráter concluso (perfeito) ou inconcluso (imperfeito) da mesma. O leitor deverá deduzir do contexto se o verbo refere-se a tempo passado, presente ou futuro. A poesia hebraica pode servir-se indistintamente do perfeito e do imperfeito, justapondo-os pelo único prazer do paralelismo. Um judeu da época pós-exílica podia surpreender-ser tanto quanto um tradutor atual ao ver utilizadas num mesmo verso duas formas verbais que significam aspectos diferentes. O paralelismo poético pode jogar também com variantes na conjugação. Tais procedimentos poéticos podiam dar ocasião a variantes textuais. Por isso, é necessário muito cuidado para não corrigir os textos poéticos conforme os critérios gramaticais de épocas tardias.[2] 15) Hebraico Bíblico 4: A gramática, o léxico e o estilo literário do hebraico mishnaico repousam sobre a base de um hebraico coloquial cujo uso sobreviveu durante esta época, embora não estivesse generalizado. O hebraico mishnaico se inscreve na evoluçãolingüística da língua hebraica bíblica com características próprias. O hebraico mishnaico contém alguns elementos genuinamente semíticos, que não se encontram no hebraico bíblico e carece, ao contrário, de outros comuns ao hebraico bíblico e ao aramaico. Características do hebraico mishnaico: a substituição definitva do relativo asher por –she, a forma shel do genitivo, o uso restrito do “estado construto”, o desaparecimento do sistema do vav consecutivo, maior freqüência do uso do particípio, convertido praticamente ao tempo presente. |
[1] Adaptado de: TREBOLLE BARRERA, Julio. A Bíblia judaica e a Bíblia cristã: introdução à história da Bíblia. Trad. Ramiro Mincato. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. p.67-79.
[2] Ver o estudo de: BARCO, Francisco Javier del. Temporalidad, aspecto, modo de acción y contexto en el verbo hebreo bíblico. IN: Revista MEAH (Miscelánea de Estudios Árabes y Hebraicos). Sección Hebreo. 2003. v 2, p.3-286. ISSN: 0544-408X
Disponível em:
<http://www.ugr.es/~estsemi/hebreo/hebmeah52.htm>.
[3] Elidir: fazer elisão de; suprimir. / Elisão: eliminação, supressão; supressão da vogal átona final duma palavra, quando a seguinte principia por vogal (exemplo dalgo = de algo).
[4] Parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e das frases no discurso.
[5] Veja o estudo sobre o classicismo bíblico de TREBOLLE BARRERA, J. (1995) p.162-165.
[6] Veja o estudo de: PIQUER OTERO, Andrés. Estudios de sintaxis verbal en textos ugaríticos poéticos. Tese de Doutorado. Madri, Espanha: Departamento de Estudios Hebreos y Arameos da Facultad de Filologia/ Universidad Complutense de Madrid, 2004.
Disponível nos links:
<http://www.ucm.es/eprints/4653/> e
<http://www.ucm.es/BUCM/tesis/fll/ucm-t26689.pdf.>.
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