Nosso Blog é melhor visualizado no navegador Mozilla Firefox.

Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

Translate

Seguidores

sábado, 12 de janeiro de 2008

História da Língua Hebraica (5)

Continuação da proposta do tópico anterior. Abordagem sobre os estudos da língua hebraica – “hebraico bíblico”.


Hebraico Bíblico (FRANCISCO)[1]


Todos os períodos históricos do hebraico demonstram uma evolução contínua e às vezes profunda em sua estrutura Iingüística.

A Bíblia Hebraica foi composta entre o século XII e II a.E.C. e seus livros refletem mais de um estágio na evolução da língua hebraica durante o período bíblico. Percebe-se também mais de um dialeto empregado em seus textos (o dialeto de Judá e o de Israel).

O vocabulário da Bíblia Hebraica é relativamente limitado compreendendo um pouco mais de 8.000 vocábulos, dos quais 2.000 são palavras ou expressões que ocorrem uma única vez ao longo do texto da Bíblia Hebraica (esses casos são denominados de hapax legomena). Os estudos realizados sobre os hapax legomena no texto hebraico bíblico apontam que a maior concentração deles se encontra nos livros (em ordem de quantidade): Jó, Ct, Is, Pr, Na, Lm e Hab. Os livros que apresentam um menor registro de hapax legomena são (em ordem de quantidade): 1 e 2 Cr, 1 e 2 Rs, Js, Ex e 1 e 2 Sm.

Os hapax legomena podem ser divididos em dois grupos: os hapax parciais (palavras que são únicas em uma determinada forma, mas em outros textos a mesma ocorre com alguma diferenciação, como artigo, preposição, plural, conjunção) e os hapax absolutos (a palavra não possui uma outra forma similar em todo o texto bíblico, constituindo assim, uma forma totalmente única).


Período Hebraico Arcaico
(séc. XIII a X a.E.C.)

Características

A poesia hebraica arcaica possui muitos elementos próprios, como o uso de determinados verbos e um vocabulário típico do hebraico nos séculos XII a X a.E.C.
Uma grande parte do vocabulário é constituída de palavras raras e arcaicas e além disso, aparecem uma única vez, no texto bíblico (hapax legomena).
Os textos em hebraico arcaico demonstram também que havia uma diferença entre a linguagem literária e entre a linguagem falada no cotidiano pelo povo israelita.

Textos

Gn 49, Ex 15, Nm 23 e 24, Dt 32 e 33, Jz 5, Sl 18, Sl 68
Os textos de Ex 15 e Jz 5 (o Cântico de Débora) datam do século XII a.E.C.
Os textos de Sl 18 e Sl 68 surgiram provavelmente na época da Monarquia Unida, em Israel (século XI e X a.E.C.).
Todos os textos poéticos, transmitidos oralmente de geração em geração, foram posteriormente colocados por escrito.
O primeiro texto bíblico a ser composto foi Jz 5 ( o Cântico de Débora), escrito provavelmente por volta de 1125 a.E.C. logo após os fatos ali relatados.
Os textos poéticos compostos na antiga forma do hebraico bíblico são de procedência do reino do Norte (Israel) e apresentam influência de povos vizinhos e de suas literaturas.


Hebraico Pré-Exílico ou Hebraico Clássico
(séc. X a VI a.E.C.)

Características

A linguagem do hebraico pré-exílico assinala o auge de desenvolvimento da língua hebraica no período bíblico e coincide com o apogeu da vida política, social, cultural, espiritual e econômica do povo israelita desde a sua entrada na Palestina ocorrida no século XIII a.E.C.
O hebraico pré-exílico alcançou uma elevada perfeição de linguagem e de composição que serviu de modelo para os outros estágios posteriores do hebraico, como o hebraico póséxílico e o hebraico de Qumran.
Alguns estudiosos debatem até que ponto a linguagem dos livros bíblicos pré-exílicos refletia o falar cotidiano do povo israelita. Provavelmente a linguagem do hebraico pré-exílico era uma forma de composição literária típica dos escribas da corte, os quais padronizaram e fixaram as regras de uma literatura em língua culta e acabaram por desenvolver uma linguagem oficial.
A linguagem do hebraico pré-exílico reflete o dialeto próprio de Jerusalém e arredores, mas alguns livros como o de Oséias e o de Amós refletem o dialeto falado no Reino do Norte (Israel) que conservou a linguagem da época da Monarquia Unida sob Davi e Salomão (séc.XI e X a.E.C.). Contudo, a linguagem predominante nos livros bíblicos escritos antes do Exílio da Babilônia é a de Jerusalém.
O hebraico pré-exílico tinha se tornado uma linguagem unificada e padronizada já na época de Salomão (961-922 a.E.C.) e fora criada provavelmente na capital, Jerusalém. Tal linguagem também era utilizada pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém e pelos escribas profissionais da corte e como tal, conservava rigidamente o padrão literário e mantinha distância da língua falada.
A estrutura consonantal dos textos bíblicos compostos no período pré-exílico é satisfatoriamente preservada pela tradição manuscrita. Em relação à vocalização, observa-se consideráveis diferenças entre a pronúncia do hebraico desse período e entre aquela fixada pelos massoretas 15 séculos mais tarde. O sistema de vocalização massorética reflete o ponto-de-vista dos próprios massoretas e em seu sistema encontra-se evidente influência do aramaico e de uma desmedida reconstrução subjetiva.

Textos

Pentateuco, Js, Jz, 1 e 2 Sm, 1 e 2Rs, Is (cap. 1 a 39), Jr, Ez, Am, Os, Mq, Na, Hab, Sf, Sl 2, Sl 3, Sl 6, Sl 11, Sl 15, Sl 20, Sl 21, Sl 24, Sl 27, Sl 28, Sl 30, Sl 31, Sl 42, Sl 43, Sl 44, Sl 45, Sl 56, Sl 57, Sl 59, Sl 61, Sl 63, Sl 78, Sl 80, Sl 82, Sl 89, Sl 101, Sl 109, Sl 110, Sl 132 e Sl 144
Uma boa parte dos livros da Bíblia Hebraica foram compostos no período que antecede o Exílio da Babilônia ocorrido a partir de 586 a.E.C. e tal época compreende o século X ao VI a.E.C., isto é, entre a época da Monarquia Unida (séc.X a.E.C.) e entre a Queda do Reino de Judá (séc.VI a.E.C.).
Essa época marca o início da composição sistemática dos livros bíblicos, os quais refletem a tradição e a experiência religiosa do povo de Israel com a fé monoteísta, como as tradições históricas relacionadas ao período patriarcal, ao Êxodo, à conquista de Canaã, à época dos juízes e à epoca da monarquia.


Hebraico Pós-Exílico ou Hebraico Tardio
(séc.
VI a.E.C. a II a.E.C.)

Características

Depois do Exílio da Babilônia a língua hebraica sofreu modificações em sua estrutura lingüística e os livros que foram escritos na época exílica e pós-exílica refletem um novo estágio. Alguns estudiosos afirmam que o hebraico pós-exílico é a língua da maioria dos livros bíblicos.
No período do Exílio e em época posterior, os judeus começaram a falar o aramaico em suas relações com seus dominadores e com as nações vizinhas. O aramaico era uma língua semítica muito próxima ao hebraico e na época do domínio assírio (período recente, séc. IX-VII a.E.C.), neobabilônico (séc. VII-VI a.E.C.) e persa (séc. VI-IV a.E.C.) tinha se tornado o idioma internacional do comércio e das relações diplomáticas. Uma boa parte do Oriente Médio dessa época falava a língua aramaica como a Síria, a Babilônia e a Assíria.
Quando os judeus retornaram do Exílio na Babilônia, na mesma época em que ocorreram as atividades de Esdras, Neemias e dos profetas Ageu e de Zacarias, o aramaico tinha se tornado uma língua comum de comunicação entre os exilados judeus e além dessa língua, também uma forma popular do hebraico que séculos mais tarde se tornaria o hebraico rabínico ou hebraico talmúdico.
Na época do domínio babilônico e persa, o hebraico não tinha desaparecido como idioma falado no cotidiano pelos judeus. Exemplo: vários livros da Bíblia Hebraica compostos após o Exílio Babilônico e outros documentos desse período em diante, como as cartas de Bar Kokhba (132-135 E.C.), os comentários rabínicos como os de Hille e os de Shammai (séc. I a.E.C., os escritos da comunidade de Qumran, entre outros. Provavelmente na região sul da Palestina conhecida como Judéia era muito comum o uso do hebraico nas relações diárias entre os judeus, enquanto na Galiléia e na Samaria era mais utilizado o aramaico.
Uma das características do hebraico pós-exílico é a evidente influência do aramaico, da linguagem popular hebraica e o uso de alguns elementos do hebraico pré-exílico na composição dos livros bíblicos pós-exílicos.
Encontramos abundantes aramaísmos nos livros de Esdras, Neemias, Daniel, Jô, Crônicas, Ester, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Os livros de Rute, Lamentações e um bom número de salmos, de escritos proféticos e de escritos sapienciais não foram afetados pelo aramaico. Além do vocabulário, o aramaico também influenciou a sintaxe e a morfologia do hebraico pós-exílico.
Durante o período pós-exílico, o hebraico pré-exílico continuou a ser usado como modelo e como inspiração literária para os escritores bíblicos desse período, como pode-se constatar em determinados textos bíblicos, como Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Daniel, vários salmos, entre outros textos.
Alguns estudiosos constataram que os autores dos livros bíblicos mencionados e dos textos de Qumran tentaram imitar o estilo e usar o vocabulário do hebraico como encontrado no texto da Torá (Pentateuco).

Textos

Esd, Ne, 1 e 2Cr, Is 40-66, Ag, Zc, Ab, Ml, Jn, Jl, Jó, Pr, Rt, Lm, Ct, Dn, Est, Ecl, Sl 1, Sl 6, Sl 8, Sl 9, Sl 10, Sl 12, Sl 14, Sl 16, Sl 22, Sl 23, Sl 25, Sl 26 , Sl 32, Sl 33, Sl 34, Sl 36, Sl 37, Sl 38, Sl 40, Sl 41, Sl 46, Sl 47, Sl 48, Sl 49, Sl 50, Sl 51, Sl 52, Sl 55, Sl 58, Sl 62, Sl 65, Sl 66, Sl 67, Sl 69, Sl 71, Sl 73, Sl 75, Sl 76, Sl 79, Sl 83, Sl 84, Sl 85, Sl 86, Sl 87, Sl 88, Sl 90, Sl 91, Sl 92, Sl 93, Sl 94, Sl 95, Sl 96, Sl 97, Sl 98, Sl 99, Sl 100, Sl 102, Sl 103, Sl 104, Sl 105, Sl 106, Sl 107, Sl 108, Sl 111, Sl 112, Sl 113, Sl 114, Sl 115, Sl 116, Sl 117, Sl 118, Sl 119, Sl 121, Sl 122, Sl 123, Sl 124, Sl 125, Sl 126, Sl 127, Sl 128, Sl 129, Sl 130, Sl 131, Sl 132, Sl 133, Sl 135, Sl 136, Sl 137, Sl 138, Sl 140, Sl 141, Sl 143, Sl 145, Sl 146, Sl 147, Sl 148, Sl 149 e Sl 150
Os livros das Crônicas de todos os livros bíblicos pós-exílicos demonstram como era o hebraico pós-exílico e seus traços diferenciais em relação ao hebraico pré-exílico Uma das características dos livros das Crônicas, como de outros livros pós-exílicos, é o constante uso de grafias plenas e das matres lectionis e a substituição de formas arcaicas por outras mais novas.
No livro de Cântico dos Cânticos constata-se pela primeira vez o emprego da linguagem popular em um escrito literário. Ocorre ainda o uso constante de palavras estrangeiras.
No livro de Eclesiastes há palavras compostas com o sufixo aramaico ōn.




[1] Adaptado de: FRANCISCO, Edson de Faria. Características da língua hebraica: Hebraico Arcaico, Hebraico Pré e Pós-Exílico, Hebraico de Qumran e Hebraico Massorético. IN: Estudos de Religião 21. Práxis Religiosas e Religião. Ano XV, Número 21, dezembro de 2001, São Bernardo do Campo, São Paulo: UMESP. p.165-195.

Um comentário:

ProfºIsaar Soares de Carvalho disse...

Texto de excelente conteúdo e com referências valiosas a outros sites. Tive o prazer de conviver com o Prof. Francisco quando lecionei Filosofia no Curso de Teologia da UMESP. A ele e à autora do site meu abraço e felicitações.
Visitem meu blog: estadohobbesiano.blogspot.com, onde publico breves textos sobre o filósofo Thomas Hobbes (1651) e a Bíblia, especialmente o texto-aula sobre a presença e a importância das Escrituras em seu pensamento, apresentado na USP em 2009, no Colóquio Internacional Hobbes.

Prof. Isaar Soares de Carvalho
Doutorando em Filosofia-UNICAMP
(isaarsoares@yahoo.com.br)