Hebraico Mishnaico
Cláudia Andréa Prata Ferreira / UFRJ (2002-2008)
Os rabinos surgem como intérpretes do texto bíblico e, por extensão, como explicadores e comentaristas, orientando o povo sobre o sentido do texto e sua aplicação à vida diária.
Ao redor desses “mestres” (rabinos) reuniam-se estudantes de todas as idades em centros de estudo e debate, para “empreenderem leituras sistemáticas com interpretação do texto e para atenderem aos problemas concretos que a vida apresentava”[1].
Havia uma regra absoluta estabelecida nesses encontros: nada do que fosse discutido deveria ser anotado por escrito, tudo deveria ser confiado à transmissão oral, assim passando do mestre aos alunos, de geração em geração. O motivo dessa regra era a crença de que só podia haver uma orientação escrita (Torá Shebik’tav), a de Moisés. Tudo o que resultou dos debates estabelecidos entre os rabinos tinha que ficar restrito à forma oral.[2]
Cabe ressaltar que o hebraico utilizado nesses debates não era o hebraico bíblico, então como referência da norma culta e sim, sua forma falada, popular. Era nessa forma que os sábios sabiam se expressar livremente e só esta era entendida por todo o povo. Não obstante, isso não foi suficiente para transformar a língua falada em língua literária, uma vez que eram proibidas as anotações da orientação oral. Se tais anotações existiam estas eram de uso individual. Contudo, a intensa atividade dos debates e exegese desenvolveu rapidamente a capacidade de expressão da língua falada, e habituou as pessoas a formular neste registro lingüístico idéias que anteriormente se restringiam à língua escrita (hebraico bíblico). Outro fator que contribui para o aumento da importância da linguagem falada nos assuntos espirituais foi a polêmica com um outro movimento popular, a seita do Mar Morto ou do Deserto de Judá. Conforme atestam as fontes denominadas de Rolos do Mar Morto, esse grupo usou como registro em sua produção textual o hebraico bíblico, não obstante o rolo de cobre, encontrado numa das cavernas da região ter sido inteiramente escrito na linguagem falada, o que comprova que era de conhecimento esse tipo de registro lingüístico por seus autores. Na produção literária desse grupo, encontramos seus autores repreendendo os fariseus, porque estes usavam uma linguagem que era considerada deselegante e não estando à altura dos conteúdos sagrados.
Provavelmente, era de conhecimento dos autores dos pergaminhos do Mar Morto que um dos fatores para a escolha da linguagem falada para o ensino pelos fariseus, devia-se ao desejo destes de afastar o povo de tudo que provinha daquela seita. Os fariseus também proibiram a leitura dos livros apócrifos, muitos dos quais expressavam opiniões condizentes com o seu pensamento, mas por sua vez, eram escritos em linguagem bíblica e davam ensejo ao aparecimento de complementações à orientação escrita (Torá Shebik’tav).
O uso da linguagem falada não só facilitou ao povo a compreensão dos ensinamentos dos fariseus, mas também marcou de forma inconfundível e imediata uma separação entre os seus escritos e os escritos heréticos, e ao mesmo tempo evitou o risco de que as pessoas identificassem o que escutavam com a orientação escrita (Torá Shebik’tav).[3]
Cláudia Andréa Prata Ferreira / UFRJ (2002-2008)
Os rabinos surgem como intérpretes do texto bíblico e, por extensão, como explicadores e comentaristas, orientando o povo sobre o sentido do texto e sua aplicação à vida diária.
Ao redor desses “mestres” (rabinos) reuniam-se estudantes de todas as idades em centros de estudo e debate, para “empreenderem leituras sistemáticas com interpretação do texto e para atenderem aos problemas concretos que a vida apresentava”[1].
Havia uma regra absoluta estabelecida nesses encontros: nada do que fosse discutido deveria ser anotado por escrito, tudo deveria ser confiado à transmissão oral, assim passando do mestre aos alunos, de geração em geração. O motivo dessa regra era a crença de que só podia haver uma orientação escrita (Torá Shebik’tav), a de Moisés. Tudo o que resultou dos debates estabelecidos entre os rabinos tinha que ficar restrito à forma oral.[2]
Cabe ressaltar que o hebraico utilizado nesses debates não era o hebraico bíblico, então como referência da norma culta e sim, sua forma falada, popular. Era nessa forma que os sábios sabiam se expressar livremente e só esta era entendida por todo o povo. Não obstante, isso não foi suficiente para transformar a língua falada em língua literária, uma vez que eram proibidas as anotações da orientação oral. Se tais anotações existiam estas eram de uso individual. Contudo, a intensa atividade dos debates e exegese desenvolveu rapidamente a capacidade de expressão da língua falada, e habituou as pessoas a formular neste registro lingüístico idéias que anteriormente se restringiam à língua escrita (hebraico bíblico). Outro fator que contribui para o aumento da importância da linguagem falada nos assuntos espirituais foi a polêmica com um outro movimento popular, a seita do Mar Morto ou do Deserto de Judá. Conforme atestam as fontes denominadas de Rolos do Mar Morto, esse grupo usou como registro em sua produção textual o hebraico bíblico, não obstante o rolo de cobre, encontrado numa das cavernas da região ter sido inteiramente escrito na linguagem falada, o que comprova que era de conhecimento esse tipo de registro lingüístico por seus autores. Na produção literária desse grupo, encontramos seus autores repreendendo os fariseus, porque estes usavam uma linguagem que era considerada deselegante e não estando à altura dos conteúdos sagrados.
Provavelmente, era de conhecimento dos autores dos pergaminhos do Mar Morto que um dos fatores para a escolha da linguagem falada para o ensino pelos fariseus, devia-se ao desejo destes de afastar o povo de tudo que provinha daquela seita. Os fariseus também proibiram a leitura dos livros apócrifos, muitos dos quais expressavam opiniões condizentes com o seu pensamento, mas por sua vez, eram escritos em linguagem bíblica e davam ensejo ao aparecimento de complementações à orientação escrita (Torá Shebik’tav).
O uso da linguagem falada não só facilitou ao povo a compreensão dos ensinamentos dos fariseus, mas também marcou de forma inconfundível e imediata uma separação entre os seus escritos e os escritos heréticos, e ao mesmo tempo evitou o risco de que as pessoas identificassem o que escutavam com a orientação escrita (Torá Shebik’tav).[3]
[1] LEMLE, Henrique.Introdução. IN: KELER, Theodore M.R. (seleção). A essência do Talmud. Trad. Paulo Rónai. /São Paulo/: Ediouro, s.d. p.10.
[2] Ibidem, p.10.
[3] Ver os trabalhos de BEREZIN, Rifka. As origens do léxico do hebraico moderno. São Paulo: EDUSP, 1980. e de RABIN, Chaim. Pequena história da língua hebraica. Trad. Rifka Berezin. São Paulo: Summus, s.d.
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